quarta-feira, 20 de junho de 2007


“Põe o chapéu antes de ires lá para fora.”, dizia ela no seu papel de avó ternurenta que tão bem desempenhava.
E eu agarrava nas bonecas, nos vestidos. Pegava nos sonhos e na sede de brincar e corria para o jardim onde inventava um mundo à minha maneira.
As horas passavam sem que eu me apercebesse. Estava tão embrenhada nas minhas coisas. Era bom sentir o cheiro a terra, tocar na relva, brincar na água. Era bom poder sujar-me, gritar e correr desafogada de poluições e de uma cidade de correrias e sufocos. Ali vivia à vontade, com vontade!
Podia soltar-me, deixar de ser a menina de colégio enfiada entre mil e uma actividades. Podia esfolar os joelhos porque ninguém ia criticar as feridas por baixo da saia plissada. Enterrar as mãos na terra e sentir-me irmã da natureza. As coisas tinham cheiro próprio, sabores característicos que nunca esquecerei. Falavam e sentiam como eu. Havia uma essência que não encontrava na minha cidade. Lá as pessoas pareciam estranhos, não sentiam e não falavam.
Como é bom viver aqui e sentir vida à minha volta!
E depois vinha o lanche. O cheiro a biscoitos e a bolachas de chocolate invadia-me os sentidos com força e alento que ainda hoje consigo sentir. E eu comia, degustava cada pedaço de meiguice enquanto o sol quente fazia o favor de me torrar a pele com toda a delicadeza.
Ali não custava viver! Só pesava estar longe… aprendi tanto, cresci ainda mais!

É por isso que me entristece ver estes meninos citadinos envolvidos em betão e cimento, num corre-corre eufórico desprendido de vida! É por isso que vou querer saber dizer “ponham o chapéu antes de irem lá para fora!”…

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