terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Natal quentinho


- Sabe o que me custa mais? Não é ter perdido as forças nem estar doente... (fechou os olhos, baixou a cabeça e respondeu-me) ... é estar uma papa e não ter ânimo. Não ter vontade de nada... Eu que era uma pessoa cheia de objectivos e coisas para fazer.


Confesso que não sabia como responder-lhe nos meus poucos 20 anos. Estava ali uma Srª adorável, 103 anos de vida que me tinham cativado em poucos momentos e uma vontade de viver que se tinha escondido não sabia onde. Deixei-me ficar calada, sabia que tinha mais para me dizer (Ali aprendi, aos poucos, a gostar do silêncio. Aprendi que o silêncio é o melhor e o mais sincero dos diálogos.)... Depois olhou-me nos olhos e serenamente disse-me:


- Não tenho vida e tenho medo de não voltar a tê-la...


Sim, engoli em seco. Notei naquela Srª que estava ciente de que isso poderia vir a acontecer. Percebi que tem tentado preparar-se para uma morte (Outra coisa que aprendi a tratar por tu e sem medos). Não falo da morte física, mas talvez pior...o luto da vontade de viver. Sabia que tinha de fazer qualquer coisa mas também estava ciente de que podia pôr o pé em falso e qulaquer palavra fora do contexto poderia acabar com uma relação que estava a iniciar-se. Nestas alturas a cabeça trabalha-me a mil, tento procurar todos os ensinamentos que os bons profissionais me deram, mas é precisamente nestes momentos que o coração age sempre primeiro... e dei-lhe a mão. A cabeça dela levantou-se, sorriu e agradeceu-me.


- Sabe? Amanhã talvez tenha para si um miminho que a vai alegrar. Vamos montar a árvore de Natal no serviço e gostava muito que fosse comigo pôr lá uma bolinha... (não precisei de dizer mais nada, à minha frente uns olhos pequeninos iluminaram-se e cresceu um sorriso verdadeiro)


- Vão fazer uma árvore de Natal? Que bom! (e apertou-me as mãos com força, enquanto se enchia de alegria). É claro que vou. Gosto do Natal... da luz... daquele quentinho! (Sorri-lhe!, não podia responder-lhe de maneira mais sincera)


- Fico muito feliz por vê-la assim!


- E vem buscar-me a que horas? Eu quero vestir-me bem. Vamos fazer uma árvore muito bonita e aquecer o ambiente!

(Não sei por andava o ânimo desta princesa, mas eu enfeitaria as árvores todas só para lhe ver novamente aquela felicidade no rosto)


(...)


E no dia seguinte lá estava a minha menina, toda bonita de sorriso rasgado e olhos de criança sôfrega de vida. Pôs bolinhas, anjinhos e um cartão de desejos na árvore e voltou feliz para o seu quarto.

Não tinhamos muito com que levar o Natal àquele serviço, mas tinhamos vontade, empenho, convívio e sorrisos, muitos sorrisos que ali são o bem mais precioso e o melhor remédio.
E é isto que quero levar a todos os meus meninos e meninas crescidos, sorrisos e olhos brilhantes. Mas neste mês, mais do que em qualquer altura, quero aquecer aqueles corações e levar-lhes pequenos presentes embrulhados em amor.
Assim, peço a todos os que me leiam que partilhem comigo ideias e projectos que me permitam levar àquele serviço um Natal quentinho.
Neste momento tenho uma guitarra à espera de uma voz bonita e cantante ou de uma veia de poeta que os encante com palavras bonitas.

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