sábado, 12 de janeiro de 2008

"Olá, bom dia!"

"Olá, bom dia!"

"Estou aqui debaixo da macieira!"

"Quem és tu? És bem bonita..."

"Sou uma raposa"

"Anda brincar comigo. Estou tão triste..."

"Não posso ir brincar contigo. Não estou presa..."

"Ah! Então desculpa!... O que é que "estar preso" quer dizer?"

"Vê-se logo que não és de cá. De que é que andas à procura?"

"Ando à procura dos homens. O que é que "estar preso" quer dizer?"

"Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar. E também fazem criação de galinhas! Andas à procura de galinhas?"

"Não. Ando à procura de amigos. O que é que "estar preso" quer dizer?

"É uma coisa que toda a gente já se esqueceu. Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém."

"Laços?"

"Sim, laços. Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo..."

"Parece-me que estou a perceber. Sabes, há uma certa flor...tenho a impressão que estou preso a ela..."
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"É bem possível. (...) se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Por favor, prende a ti."

"Eu bem gostava mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer..."

"Só conhecemos as coisas que prendemos a nós. Os homens agora já não têm tempo para conhecer nada. Se queres um amigo, prende-me a ti!"

"E o que é que é preciso fazer?"

"É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto..."


E foi assim que o Principezinho prendeu a si a raposa. Mas na hora da despedida...


"Ai, ai que me vou pôr a chorar..."

"A culpa é tua! Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim..."
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"Pois quis!"
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"Mas agora vais-te pôr a chorar!"

"Pois vou!"
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"Então não ganhaste nada com isso!"

"Ai isso é que ganhei. Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo!"
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(...)

"Adeus!"

"Adeus! Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos... Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante. Os homens já se esqueceram desta verdade, mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre pelo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa..."
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[ Tinha eu 7 ou 8 anos quando decidi ir buscar este livro à minha estante. Comecei a lê-lo, mas não entendi nada: um menino que vivia num planeta estranho e uma jibóia que parecia um chapéu?! Fui dizer mal do livro à mãe, grande ouvinte destas pequenas angústias e reclamações. E ela respondeu-me qualquer coisa como "Esse é um livro para crescidos. Um dia vais lê-lo e vais perceber". E eu esperei, até que ele me despertasse novo interesse por entre um acumulado de livros e histórias por ler. E anos mais tarde encontrámo-nos os dois e percebi-o tão bem! Por isso partilho com quem quiser um pequeno excerto de um dos meus livros preferidos. Um excerto dedicado a todos aqueles que estão presos a mim, que tornam a minha vida cheia de sol. Aos meus verdadeiros Amigos! ]
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2 comentários:

Monica disse...

Um livro que me foi 'ensinado', por uma das melhlores professoras que já tive. Para mim, a melhor e só por isso, acabou por ser especial. Mas também, porque só ele, encerra uma metáfora belissima à vida. :)

Acho que a dificuldade em manter os amigos tenha a ver exactamente com essa questão, cativar alguém talvez seja a parte mais simples, mas tornar-se e bem, responsável por quem cativamos, é o mais dificil. Por isso é são raras as amizades de verdade, tenho para mim xD =)

beijinho***

Ana disse...

Meu amor, cativaste-me sem ser preciso muito, sabes disso. E vi-te com o coração porque os meus olhos seriam incapazes de ver o essencial. :) Incluo-me à descarada nesse "Aos meus verdadeiros amigos" pq te sinto como tal. =)

Um beijo enorme!*