quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Tenho saudades tuas…
Sinto a falta das tuas mãos grandes que me apertavam, da barba rija a picar-me a cara. Tenho saudades de andar em cima dos teus pés e que me perguntes todos os dias se já fiz os “deveres da escola”. Que me perguntes como vão os estudos e me peças para nunca fumar. Faltam-me as tuas histórias e alguém com quem falar de política. Faltam-me os teus zappings rápidos e o silêncio à hora do telejornal. Já ninguém me diz que não se fala à mesa enquanto comemos. E já não oiço o barulho da máquina de barbear à noite. Onde está colo para onde eu fugia depois do jantar? A quem é que vou relatar agora os jogos do Sporting? E lembras-te quando dizias que eu era muito bonita porque tinha um avô como tu? Eras tão vaidoso! Tenho saudades de te ver comer mil chocolates. És tão guloso! E saudades de me rir contigo, do teu sorriso grande. Tenho saudades dos teus olhos a pedirem-me beijinhos e a dizerem que gostas de mim, daquela rosa especial no dia dos namorados. Saudades do pequeno almoço que me trazias e das exigências (boas) que me fazias. Pedias-me que estudasse e não aceitasse coisas de estranhos e depois finalizavas sempre com: “fazes isso ao vovô?”. Como é que eu podia dizer que não! Mas não esqueço os teus olhos quando tinhas de me ralhar.
Eras tu que me punhas a ver o direito de antena. Eras tu que devoravas filmes de acção e de cowboys e não dispensavas ler o jornal. Ensinavas-me como era o antigamente. Falavas dos tempos, das pessoas, das dificuldades…falavas do que foste e onde chegaste. E de olhos grande e brilhantes falavas da casa que sempre quiseste e que com tanto orgulho construíste. Tanto que vivemos lá! Rebolámos na relva, regámos o jardim e as flores, molhámo-nos, mexi na terra e sujei-me. Vivi e cresci! E era lá que comprávamos imensos gelados e víamos os coelhos escondidos ao anoitecer. Foi lá que jogámos ao loto e ao dominó. E foi lá também que me prometeste uma bicicleta se eu andasse de triciclo com os pés nos pedais. Chamavas-me preguiçosa, mas tive a minha bicicleta!
Aprendi a amar-te à distância de um respeito desmesurado. E cresci agasalhada no teu amor, num gostar muito teu. Numa protecção desmedida. E saber-te assim custa. Magoa lá no fundo. Cresci ao lado de um homem independente, admirável, um verdadeiro “mãos largas” em tudo. Domei-te a teimosia e soube amolecer-te o coração. E agora, agora és tu que me amoleces a mim, sem quereres. Às vezes pergunto-me como é que passas o tempo, se te lembras de mim e se tens noção do quanto gosto de ti. Se sabes que te agradeço tudo e que não te esqueço. Que pesa ver-te esmorecer à passagem do tempo e despedaça-me ver-te chorar. Mas eu sei que és forte e não vais desistir! Vais lutar contra a persistência do que se apodera de ti e pedir às pernas que obedeçam ao que a cabeça te manda fazer. Porque tu és capaz, porque a minha mão vai estar sempre perto para te segurar.
Só peço à vida que me dê tempo de te dizer o quanto gosto de ti. Tenho medo que um dia seja tarde demais…


Àquele avô!

2 comentários:

Monica disse...

Era inevitável não ficar embargada de saudade ao ler isto. Pela beleza do que escreveste, pelo meu avô que tb já não me pode dizer que o Sporting é o melhor clube e ouvi-lo dizer 'deixa lá a miuda''. Infelizmente, nunca mais vou poder ouvir isso mas eu sei que o trago em muitas coisas que eu sou e que ele olha por mim, seja lá como for.

Que o teu avô seja forte e consiga então dar-te esse tempo para lhe dizeres que gostas dele. ESpero sinceramente que sim. :)

beijinho***

Anónimo disse...

Ele sabe, ele sente. Diz, sem medos, que gostas dele porquea vida acaba num instante e é mau ficarem coisas por dizer, um simples adoro-te que aquece o coração. Diz, diz, ele vai gostar vai sorrir, tu vais sorrir. Assim serão felizes e ficarás com mais um óptimo momento guardo para ti, tão vosso.